Salvemos a nossa competitividade !
Com o título “Salvemos a nossa casa comum !” redigimos o Ponto de Vista do último número da Pasta e Papel, em que nos referíamos à Conferência de Paris, a denominada COP 21. Dada a importância deste evento voltamos ao tema neste número da nossa revista, publicando, com muito prazer, o artigo de opinião “Alterações climáticas – Paris e a mudança de paradigma de desenvolvimento” de autoria do Prof. Francisco Ferreira, Professor na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e Presidente da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável. O prestígio deste professor e o facto de ter participado ativamente nos trabalhos da Conferência dão uma importância adicional a este documento.
Como escrevemos, estamos perante um problema global, de todos nós, cidadãos, pelo que temos o de encarar como nosso e contribuir para a sua solução : uma tarefa complicada, mas desejável e exequível. Mas outro problema, potencialmente muito grave, se vislumbra no horizonte para o nosso setor, para a nossa fileira da floresta, para o nosso país.
O novo Governo anunciou o limite à expansão da área de plantação de eucalipto, decisão que resulta da negociação com o partido Os Verdes que suporta o Executivo no Parlamento e está transcrita no acordo de governo. Para além de um aumento de produtividade das plantações em que as empresas produtoras de pasta estão altamente envolvidas (mas o aumento da produtividade por hectare pode levar entre 12 a 20 anos…) há que tomar outras medidas urgentes, de que se espera uma
conveniente resposta das autoridades, nomeadamente com políticas que revertam significativamente o declínio da floresta portuguesa, quer numa perspetiva fitossanitária, quer numa perspetiva de produção ; políticas que contrariem as tendências de redução de área e da produtividade da floresta portuguesa, nomeadamente devido à existência de grandes áreas de eucaliptal envelhecido, aos incêndios, às pragas e às doenças. Para que o país possa produzir internamente, de forma sustentável, grande parte das matérias-primas florestais que atualmente são importadas, a custos que prejudicam seriamente a competitividade do sector, há, com efeito, que tomar medidas imediatas que conduzam a uma redução de prazos e desburocratização dos pedidos de licenciamento, aumento do controlo e fiscalização das ações de arborização
e rearborização, recolha e disponibilização pública de informação, transparência e equidade e que assegurem que os apoios à floresta (PDR 2020) atinjam o montante ajustado à sua contribuição para a riqueza nacional e ao seu potencial de desenvolvimento. Carrilar convenientemente os apoios comunitários, acabar com a morosidade dos licenciamentos e evitar a falta de previsibilidade política face ao sector, serão formas para que a madeira possa ser produzida localmente, e evitar que todos os anos o valor das importações de madeira, que rondam os €400 milhões, saiam do país e se abram perspetivas a novos investimentos. Para além dos novos investimentos em risco no setor da produção de pasta e papel, não devemos esquecer que a fileira florestal é um importante foco de geração de emprego no interior do país, em zonas remotas e castigadas pela desertificação. Por isso dizemos que, analogamente ao que escrevemos em relação à sustentabilidade ambiental, também este acordo de governo se transforma num problema para todos nós e que temos de ajudar a ultrapassar, contribuindo, com a nossa quota-parte, para a sua solução. Por isso, parafraseamos o último número, damos, agora, como título a este novo ponto de vista salvemos a nossa competitividade !
Um assunto de enorme importância, que abordamos na entrevista com o novo Diretor Geral da CELPA, o Eng. Carlos Vieira ; profundo conhecedor do setor, esperamos da sua ação, um revigoramento da profícua ação desta associação empresarial, que tenha em consideração todas as particularidades das diversas partes intervenientes : floresta, pasta e papel.
Particularidades que, nas suas várias formas, têm sido abordadas nas iniciativas desenvolvidas pela associação técnica do setor, a Tecnicelpa, que acaba de comemorar os seus 35 anos de vida. O nosso agradecimento a todos que contribuíram, de forma muito positiva, para a sua gestão e concretização das suas atividades neste já longo período de tempo.
Constrangimentos, muitas barreiras, muita burocracia, muitas pedras no caminho…
Parafraseando Fernando Pessoa : Pedras no caminho ? Guardámo-las todas, um dia havemos de construir um castelo…
Tenhamos esperança no futuro, que muito dependerá da nossa ação, cidadãos deste país.
João de Sá Nogueira
Editor
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