Salvemos a nossa casa comum !
Mais do que referirmos os novos investimentos e as novas tecnologias, a evolução dos mercados e as novas matérias-primas, que apresentamos neste número da
revista Pasta e Papel, queremos, nesta oportunidade, salientar um acontecimento que poderá ter um grande impacte no nosso futuro : a realização, em Paris, da COP 21.
A Conferência COP21 teve como objetivo definir o conteúdo de um acordo internacional visando a limitação do aquecimento antropogénico em 2°C, quando
comparado com os tempos pré-industriais (1750). Tal acordo, que sucederá, a partir de 2020, ao que tinha sido celebrado em 1992, em Kyoto (Protocolo de Kyoto),
foi muito difícil e complexo de estabelecer. Com efeito, a responsabilidade passada e presente, em termos de emissão de gases de efeito estufa (GEE) varia de Estado
para Estado, com o seu nível de desenvolvimento, a sua capacidade de realizar uma transição para uma economia de baixo carbono ou, ainda, com a sua vulnerabilidade
às consequências das alterações climáticas. A questão das transferências financeiras entre Estados, finalmente, foi uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos negociadores.
Depois de duras negociações, de avanços e recuos e de impasses prolongados, o novo documento traça agora um rumo comum para travar o aquecimento do planeta. Mas o caminho ainda é longo e com obstáculos.
Há uma visão positiva consensual : o acordo estabelece uma meta, traça um caminho e pela primeira vez envolve todos os países. Prevê que a subida da temperatura do planeta não deve exceder o valor
de 2°C até ao final do século, em relação à média na era pré-industrial, e afirma que, algures na segunda metade do século, as emissões de gases com efeito de estufa deverão cessar - uma parte pode
ser absorvida, ou por novas manchas florestais ou com tecnologias entretanto operacionalizadas.
A maior fraqueza do documento é a de não estabelecer metas concretas de reduções de gases com efeito de estufa, deixando a cada país o encargo de as anunciar, a partir de 2020, ano em que ele
entra em vigor. Até lá, o acordo ainda vai ser assinado em Nova Iorque, na sede das Nações Unidas, no Dia da Terra, a 22 de abril, e terá ainda de ser ratificado nos vários países.
Para a generalidade dos observadores, este é sobretudo o início de uma nova fase na luta contra as alterações climáticas, uma vez que o texto contempla a obrigação da revisão das metas de redução de emissões apresentadas pelos diferentes países, a cada cinco anos, a partir de 2023, o que vai permitir ajustar o caminho à meta da descarbonização total na segunda metade
do século.
Envolve, pela primeira vez, todos os países do mundo na luta contra as alterações climáticas e o aquecimento global. No compromisso, juridicamente vinculativo, comprometem-se a reduzir significativamente o uso de combustíveis fósseis para apostar nas energias renováveis. Relativamente às verbas, uma das questões mais polémicas, o documento prevê o financiamento de
cem mil milhões de dólares por ano para os países em desenvolvimento após 2020. Cada país deverá, daqui para a frente, estabelecer os seus objetivos com vista a atingir as metas definidas. E reunirão para balanço em 2025.
Por isso o Acordo de Paris não é o fim, mas o início de um processo para evitar o aquecimento global. Os governos devem agora transformar as palavras em ações, com políticas que façam progressos efetivos sobre as promessas de redução. Para as empresas, é um sinal claro para o muito que há ainda a fazer. E para todos nós, cidadãos, que temos de encarar o problema como nosso e contribuir para a sua solução, uma tarefa complicada, mas desejável e exequível. Como o Papa Francisco disse : “O clima é um bem comum, um bem de todos” e por isso “as mudanças climáticas são um problema global que requerem o empenho responsável de todos para o seu melhoramento”.
Salvemos a nossa “casa comum” !
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