Bio economia, matérias-primas, investimentos e pessoas…
Afileira florestal, como fornecedora de produtos sustentáveis, renováveis e
recicláveis de madeira e de papel tem a oportunidade de, cada vez melhor,
satisfazer os mercados tradicionais de pasta, papel, embalagens de papel, produtos
de madeira e os novos mercados da bioenergia, de produtos químicos, de produtos
farmacêuticos e outros. Muitas empresas estão empenhadas no desenvolvimento da
nova geração de materiais de fibras de madeira para atender às necessidades da população mundial em crescimento.
Com efeito, as indústrias florestais em todo o mundo estão a criar novos produtos e
processos competitivos para substituir materiais não-renováveis e, assim, estão a abrir
caminhos para a denominada bio economia com baixa emissão de carbono.
O objetivo será chegar a uma bio economia industrial orientada pela mitigação das mudanças climáticas e para a proteção do
meio ambiente e a conservação dos recursos naturais com vista a sua utilização pelas gerações futuras.
Mas nem tudo são rosas... Se teoricamente esta posição está absolutamente certa, na prática as coisas são mais complicadas.
O artigo “Existe Neutralidade de Carbono no Uso de Biomassa para Energia ?”, que publicamos neste número, levanta a
questão : “A biomassa é um recurso finito e deve ser usada de forma eficiente. O uso para energia é um dos usos possíveis, mas
os benefícios económicos e de redução de emissões não são necessariamente maximizados com essa forma de utilização.”
Uma nova aplicação da madeira que deverá, pois, ter em conta uma correta análise custo/benefício, atendendo às necessidades
da indústria com base na fileira florestal.
De acordo com análises disponíveis, a procura mundial de papel e cartão, até 2025, crescerá graças aos papéis tissue e de
embalagem e ao aumento do consumo em países como a China, com estabilização nos papéis revestidos e não revestidos.
Daqui resultam oportunidades para o crescimento das pastas de eucalipto, que a escassez de madeira impede a indústria
papeleira portuguesa de acompanhar. Esta, com efeito, depende da disponibilidade da madeira, sua principal matéria-prima
e fator de custo ; esta escassez impede o desenvolvimento da indústria e corrói a sua competitividade, obrigando a volumosas
e dispendiosas importações.
Só uma urgente e indispensável convergência nacional de esforços para o aproveitamento de áreas adequadas e disponíveis
para florestar poderá alterar esta situação. “Encarar a realidade sem preconceitos sobre plantações florestais (num país
praticamente sem floresta natural) controlando e preservando os recursos naturais com base em critérios científicos e não em
preconceitos irracionais”, como é afirmado no artigo de opinião que publicamos, sob o título “A biologia política”, será o
caminho.
Não sendo este contexto alterado, a indústria ver-se-á, para assegurar a sua viabilidade, na necessidade de realizar os
seus investimentos florestais e industriais fora do país. Tal situação é já objeto da estratégia de desenvolvimento do Grupo
Portucel Soporcel, que está a realizar grandes investimentos no estrangeiro (ver notícia neste número). Em Moçambique, com
a florestação de 300.000 ha de eucalipto e a construção de uma fábrica de pasta para 1,5 milhões t/ano, para além de uma
central de cogeração de 250 GWh/ano ; nos E.U.A. a construir uma fábrica de pellets, aproveitando a disponibilidade de
matérias-primas e os vantajosos custos dos fatores de produção.
Melhor correm as coisas no Brasil em que novos investimentos nos sectores florestal e industrial têm sido lançados, como
temos oportunidade de exemplificar nesta edição da revista Pasta e Papel : o artigo “A nova fronteira da celulose” relata o
investimento realizado pela Suzano Papel e Celulose na sua unidade de Imperatriz ; a reportagem sobre o projeto Puma da
Klablin dá conta do investimento em curso que deverá ficar finalizado no próximo ano.
Mas temos de ser otimistas e confiar nas nossas capacidades em Portugal ; as mesmas que permitiram constituir um grupo
florestal verticalmente integrado, líder mundial no melhoramento genético do Eucalyptus globulus, sendo o maior produtor
europeu, e o quinto a nível mundial, de pasta branqueada de eucalipto e líder na Europa na produção de papéis de escritório
de elevada qualidade : o Grupo Portucel Soporcel, que acaba de anunciar a sua entrada no negócio do tissue, com a aquisição
da fábrica da AMS e com a futura integração da fábrica de Cacia com a produção deste tipo de papel.
Assinalamos, neste número as efemérides relativas aos Complexos Industriais da Figueira da Foz e de Setúbal do Grupo
Portucel Soporcel registadas em 2014. É a nossa homenagem a todos aqueles que em Portugal, ultrapassando ventos e marés,
foram - e continuam a ser - os grandes e inovadores obreiros deste nosso setor industrial.
João de Sá Nogueira
Editor
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